Remédios para emagrecer mudam consumo e desafiam bares e restaurantes
Remédios para emagrecer
mudam consumo e desafiam bares e restaurantes
Brasil é o segundo país
que mais busca por remédios como Ozempic e Mounjaro, e tendência já influencia
cardápios e operação do setor
O Brasil ocupa hoje o
segundo lugar no ranking mundial de buscas pelos termos Ozempic e Mounjaro,
dois dos remédios mais conhecidos da classe GLP-1, usados para controle de peso
e emagrecimento. Além de transformar a vida de milhões de pessoas, esse tipo de
medicamento começa a impactar bares e restaurantes. Isso porque os usuários
tendem a ter menos apetite, pedem porções menores e, em alguns casos, até
reduzem a frequência de idas a estabelecimentos fora do lar.
Nos
Estados Unidos, o reflexo já é visível. Restaurantes criaram cardápios
adaptados para esse público, com versões compactas de pratos tradicionais, mini
coquetéis e menus degustação reduzidos. A ideia é atender quem passou a comer
menos, mas não quer abrir mão da experiência gastronômica. Em Nova York, o
Clinton Hall lançou a chamada “mini refeição pequenininha”, com hambúrguer
menor, batata frita em porção reduzida e até uma mini cerveja. O sucesso foi
imediato, principalmente entre clientes que usam remédios para emagrecer.
Esse movimento desperta a
atenção de empresários brasileiros. Afinal, se a demanda por esses medicamentos
cresce no país, o setor de alimentação fora do lar precisa entender como se
adaptar para não perder clientes — e, mais que isso, como transformar a mudança
em oportunidade.
O impacto dos remédios na
rentabilidade e no desperdício
O grande ponto de
interrogação para os empresários é: se as pessoas comem menos, o ticket médio
vai cair? Para Adriana Lara, líder de Educação e Produtividade da Abrasel,
essa é uma preocupação legítima, mas que pode ser encarada como uma chance de
repensar modelos de cardápio e de operação.
“Porções menores podem
reduzir o ticket médio, mas também permitem ajustar preços e margens, além de
incentivar o consumo de acompanhamentos e bebidas. Na operação, simplificam a
produção, reduzem desperdícios e exigem revisão das fichas técnicas e do planejamento
de compras”, afirma.
Ou seja, em vez de encarar
o uso de remédio como uma ameaça, bares e restaurantes podem se adaptar. Em
alguns casos, a redução de tamanho abre espaço para maior diversificação. O
cliente pode pedir duas pequenas entradas em vez de um prato principal, ou experimentar
sobremesas que antes não caberiam após uma refeição maior. Isso amplia a
experiência e pode equilibrar o faturamento.
Outro ponto positivo é o
combate ao desperdício de alimentos, um dos grandes desafios do setor no
Brasil. “Pratos mais ajustados à real necessidade do cliente reduzem sobras no
prato e perdas na cozinha, ajudando a enfrentar um dos maiores problemas do setor”,
reforça Adriana.
Cardápios menores e
adaptação como diferencial competitivo
Oferecer cardápios
adaptados a esse público não deve ser visto apenas como ajuste, mas como
diferencial competitivo. Nos Estados Unidos, já existem redes que anunciam
explicitamente menus pensados para usuários de remédios GLP-1. É o caso da
Smoothie King, que criou um “cardápio de apoio ao GLP-1”, com smoothies ricos
em proteínas, fibras e baixo teor de açúcar.
No Brasil, alguns
estabelecimentos de alta gastronomia já oferecem meia porção, pratos
individuais ou menus degustação mais curtos, ainda que não diretamente
associados ao consumo de remédio. Esse tipo de flexibilidade pode se tornar
cada vez mais relevante.
Para Adriana Lara, a
tendência deve se consolidar também no mercado brasileiro. “O Brasil pode
caminhar para formatos já comuns em outros países, como menus degustação, meia
porção, pratos individuais e opções balanceadas”, avalia.
A mudança exige, no
entanto, atenção redobrada em relação à segurança dos alimentos. “É preciso dar
atenção na manipulação dos ingredientes fracionados, pois isso aumenta o risco
de contaminação. O armazenamento adequado de porções menores é essencial, assim
como refazer fichas técnicas para garantir padronização e custos corretos”,
orienta Adriana.
Embora os remédios para
emagrecer influenciem a forma como as pessoas consomem, a experiência continua
sendo o que leva os clientes a bares e restaurantes. A ida a um estabelecimento
envolve convivência, celebração, lazer e hospitalidade. Por isso, empreendimentos
que adaptarem seus cardápios sem perder de vista a qualidade do serviço e o
ambiente acolhedor terão vantagem competitiva.
Especialistas
internacionais apontam que muitos clientes não saem para comer se não encontram
opções adequadas ao seu apetite atual. Essa constatação reforça a importância
de cardápios inclusivos, que contemplem desde grandes refeições até versões
compactas. Isso evita que um público crescente — usuários de remédio para
emagrecer — deixe de frequentar bares e restaurantes.
Além disso, o apelo visual
também conta. Mini coquetéis, pratos em versões menores, menus degustação e
sobremesas fracionadas geram desejo nas redes sociais, outro fator que atrai
clientes e transforma a tendência em estratégia de marketing.
Com milhões de brasileiros
interessados em usar ou já consumindo remédios como Ozempic e Mounjaro, bares e
restaurantes precisam se adaptar. A mudança não deve ser vista como ameaça, mas
como parte de um setor que historicamente sempre se ajustou às transformações
sociais. O cliente que come menos pode gastar em experiências diferentes: uma
bebida autoral, uma sobremesa criativa ou um prato compartilhado. Para os
empresários, a chave está em testar novos formatos, ajustar fichas técnicas e
encontrar equilíbrio entre rentabilidade e satisfação do cliente.
Restaurante a quilo:
solução para novos hábitos de consumo
Para consumidores que usam
remédios de emagrecimento ou simplesmente preferem comer menos, os restaurantes
a quilo oferecem uma solução prática. O formato permite que cada cliente monte
o prato de acordo com a fome do momento, evita desperdícios e garante
flexibilidade para variar sabores e quantidades.
A Abrasel valoriza esse
modelo por meio do concurso O
Quilo é Nosso, que neste ano acontece entre os dias 16 e 26 de
setembro e reúne estabelecimentos de todo o país em uma celebração anual.
Clientes e jurados técnicos avaliam pratos criados especialmente para a
competição, premiam os melhores em etapas estaduais e nacional. Mais do que uma
disputa gastronômica, o concurso estimula qualidade, inovação e reforça a
identidade cultural do restaurante a quilo como símbolo da alimentação fora do
lar.
Rodrigo Zamperlini, dono
do restaurante Mercato Brazil Manauara, em Manaus, campeão do concurso em 2017,
confirma essa percepção. “Nós temos clientes recorrentes que estão fazendo
tratamento para emagrecimento e que ressaltam a importância da variedade no
cardápio, inclusive das saladas, para que possam seguir com a dieta balanceada
e, ao mesmo tempo, variar o que escolhem para servir.”
