Na Beira marca estreia solo de Meg Heloise na literatura
Viver ou sobreviver? Este é
dilema diário de pessoas negras no Brasil, especialmente mulheres. A parcela
feminina e negra ainda é a que mais sofre violências, enfrenta precariedade,
falta de assistência, espaço e até de afeto. Com todas as mazelas, resistem.
Sobrevivem à travessia da vida turbulenta sem deixar que os sonhos naufraguem.
A escrita é uma possibilidade de existência. De resistência, um misto de
refúgio e enfrentamento.
Um dos corpos negros
dissidentes é da doutora em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA) Meg Heloise, que lança o livro Na Beira, no próximo dia 13 de junho, a
partir das 19 horas, no Museu de Arte da Bahia (MAB). “A poesia é a forma com
que me conecto com o mundo. Eu estou na beira, o meu corpo está à beira de
tudo. Na beira desta sociedade que nos oprime e silencia. Eu estou na beira de
mim mesma para reconhecer meus afetos, vivências, memórias e ancestralidade”,
define Heloise, buscando fôlego para navegar na emoção do primeiro livro solo.
A obra retrata através de
poesias os atravessamentos e a existência enquanto mulher negra. Reúne 45
poemas que perpassam a subjetividade do ser mulher e negra. Lançada pela
editora Segundo Selo, a obra terá pré-venda de 26 de maio a 11 de junho e
sessão de autógrafos no evento de lançamento agendado pra o dia 13 de junho. O
prefácio é assinado pela escritora Luciany Aparecida e, a orelha, por Silvana
Carvalho.
Meg Heloise escreve poemas
desde os 12 anos. A verve artística sempre foi estimulada pela mãe e pelos
professores de escolas onde estudou no município de Nazaré, recôncavo baiano. A
menina que cresceu entre os livros e gostava de frequentar bibliotecas, decidiu
cursar Letras Vernáculas na Universidade Estadual da Bahia (UNEB). A graduação
só deu mais vazão à paixão pela literatura. Depois de participar de antologias
nacionais e internacionais, resolveu reunir os textos escritos em blocos de
nota entre os anos de 2017 e 2024 em um projeto autoral. “Em 2020, comecei a
reunir os textos para tirar o sonho da gaveta. Até então, a travessia poética
tinha ficado contida em razão de tarefas e funções outras, entre demandas de
pesquisa e funcionais”, conta a autora.
De certo, a atuação, nos
últimos quatro anos, como curadora da Festa Literária de Aratuípe (FLITA)
contribuiu com boa dose de inspiração. “Parto desse movimento de estimular a
leitura, acompanhar a FLITA acontecer desde o chão das escolas, de reunir pessoas
que escrevem e estimular novas publicações. Assim, a minha publicação acabou
emergindo também”, celebra Heloise que, da perspectiva de pesquisadora e
acadêmica, está tendo que aprender a reconhecer-se como poeta. “Está
sendo um novo movimento, fluido e prazeroso. O corpo aprende o caminho quando
se move”.
Desde 2021, Meg Heloise
dedica-se aos bastidores da cena educacional e cultural, onde continua fazendo
e articulando histórias. Meg tem como inspiração autoras contemporâneas como
Conceição Evaristo, Lívia Natália (sujeita da sua pesquisa de doutorado), Luciany
Aparecida, Calila das Mercês e Maya Angelou. No processo de conclusão do
doutorado precisou se afastar um pouco da persona escritora, mas o sonho
continuou sendo cultivado em seu coração. A atuação como curadora nas quatro
edições da Festa Literária de Aratuípe (FLITA) estimulou ainda mais a produção
de Na Beira. “A Meg curadora tem percebido e estimulado a
Meg poeta. Assim, acolho a menina que fui, dizendo para ela que a escrita é,
sim, possível. É necessária”, destaca a escritora.
A menina que cresceu no
interior, migrou para a capital em busca de estudo, vem escrevendo uma nova
história. “Tenho presenciado e participado do importante movimento de
democratização do acesso ao livro e à leitura. As cidades do interior, que
sempre sofreram com escassez de livraras, hoje celebram a interiorização dos
eventos literários”, pontua a jovem doutora que atua na formação de professores
e é também assessora técnica da União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação (Undime).
Otimista sobre o futuro da
educação, ela percebe avanços na relação dos estudantes com a literatura. “As
políticas públicas refletem diretamente nas escolas, desde a estrutura física,
equipamentos e mobiliário adequado, até os cantinhos de leitura, os acervos
destinados às bibliotecas escolares e municipais, a política nacional do livro
didático e a potência das festas literárias, espaço de formação de leitores e
de incentivo a novos escritores”, destaca. Meg acredita que o caminho não é
fazer da leitura um hábito mecânico, mas estimular a descoberta do prazer de
navegar pelas páginas de um livro. “Despertar o prazer pela leitura e,
sobretudo, a leitura literária, pode fazer com que uma comunidade inteira
compreenda o poder do livro. Em minhas memórias, tenho a imagem de minha mãe me
conduzindo até a biblioteca. Todo esse caminho, incluindo a parada na
sorveteria, já se apresentava para mim como leitura. Assim, desde cedo, atrelei
a leitura ao prazer”, conclui.
Serviço:
O que? Lançamento do
livro Na Beira (Editora Segundo Selo, 76 páginas)
Quando? 13/06 (Sexta-feira)
Horário? A partir das 19h
Onde? Museu de Arte da Bahia
(MAB)
Quanto? R$ 40,00
Como? Mais Informações @meg_heloise
