Ato interreligioso celebra memória de escravizados enterrados no possível primeiro cemitério público de Salvador
Evento será realizado na próxima
quarta-feira, dia 14, na Pupileira e contará com a presença de promotores do
Ministério Público da Bahia, pesquisadores e lideranças religiosas
Um ato interreligioso será realizado na próxima quarta-feira, dia 14, às 10h,
no estacionamento da Pupileira, local onde teria funcionado o primeiro
cemitério público de Salvador. O evento será aberto ao público e tem o objetivo
de preservar a memória e religiosidade das pessoas supostamente ali enterradas.
Além disso, a ação busca também promover o respeito entre diferentes
manifestações religiosas.
A decisão foi tomada após uma reunião realizada nesta quinta-feira, 8, pelo
Ministério Público da Bahia, por meio do Núcleo de Defesa do Patrimônio
Histórico, Artístico e Cultural (Nudephac), da 4ª e 5ª Promotorias de Justiça
do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo da Capital e da 1ª Promotoria de
Justiça de Direitos Humanos da Capital.
Na ocasião, estiveram presentes pesquisadores e representantes de diversas
religiões, entre eles a arqueóloga Jeanne Dias, o advogado e professor da
Faculdade de Direito da UFBA Samuel Vida, a arquiteta e pesquisadora Silvana
Olivieri, além de lideranças religiosas. O encontro teve como foco ouvir os
religiosos sobre o impacto que a pesquisa arqueológica pode causar no local e
discutir formas de garantir o respeito à memória das pessoas ali sepultadas.
Segundo os relatos apresentados, o cemitério teria sido utilizado para enterrar
pessoas marginalizadas pela sociedade da época: pobres, indigentes, pessoas
escravizadas, prostitutas, suicidas, excomungados e condenados à morte.
“Uma vez confirmadas as informações das pesquisas, estaremos diante de uma
descoberta de magnitude inédita, possivelmente o maior cemitério de pessoas
escravizadas de toda a América Latina. Trata-se de um achado que resgata a
nossa história e memória, permitindo, mesmo após tantos anos, uma reparação
histórica à dignidade dessas pessoas. O ato interreligioso tem essa finalidade
de reconhecer a humanidade das pessoas ali enterradas, que foram desumanizadas
pelo processo escravocrata, não apenas durante a privação de liberdade e
escravização, mas também na morte, quando lhes foi negado qualquer tipo de ritual
fúnebre”, destaca a promotora de Justiça Lívia Sant’Anna Vaz.
O MPBA reforça ainda que o ato interreligioso será aberto a todas as
pessoas interessadas, desde que a participação ocorra de forma respeitosa e em
harmonia com o espírito de união e diversidade religiosa que o evento propõe.
